quarta-feira, 16 de julho de 2014

PostHeaderIcon 5 filmes de artes marciais que marcaram minha infância

        Embora minha admiração pelo cinema europeu (sobretudo em seu gênero dramático) não tenha findado, comunico aos escassos e estimados leitores deste blog que minha fase cinematográfica atual está voltada aos filmes de arte marcial, devido a minha imersão paulatina no pensamento oriental (sobretudo na milenar tradição chinesa).
            Decidi começar pelo começo, de modo que nesta postagem comentarei filmes sobre artes marciais que marcaram minha infância/pré-adolescência; naquela época eu não possuía apreço especial por filmes deste gênero, mas por filme de ação em geral, os quais classifico em dois grupos:  1) aqueles que mesclam artes marciais com outros tipos de cenas de ação, como troca de tiros com armas de fogo, perseguições de carros/motos e afins (alguns filmes do Van Damme, bem como todos os poucos do Steven Seagal que assisti representam essa categoria); 2) aqueles cuja ação não inclui artes marciais, podendo haver não só perseguição entre veículos motorizados e troca de tiros com armas de fogo, mas em alguns casos luta, sendo estas mais baseadas em força física do que em técnica (“Rambo” com Stallone e “O exterminador do futuro” com Schwarzenegger representam essa categoria). Não são estes filmes de ação em geral que me interessam atualmente, mas os filmes especificamente de artes marciais, onde armas de fogo aparecem apenas secundariamente (geralmente quem as usa são os bandidos), e cujas lutas se baseiam não só em força, mas em técnica, velocidade, versatilidade e inteligência. Contudo, dentro deste gênero há aqueles que privilegiam a estética das lutas (“O grande mestre invencível” com Jackie Chan, por exemplo), os que privilegiam a mensagem em detrimento das lutas (os quatro primeiros episódios da série “Karatê Kid”) e os que mesclam com qualidade ambos os aspectos (“O mestre das armas”, com Jet Li é talvez o melhor exemplo, embora o filme “O tigre e o dragão” também mereça menção). Os três tipos de filmes especificamente de artes marciais me interessam.
            Após esta justificativa do texto, cabe salientar que os filmes abaixo mencionados não estão em ordem de preferência, mas em ordem cronológica invertida (começando do mais recente, finalizando no mais antigo).

Lua sangrenta” (EUA, 1997, de Siu-Hung Leung).
Trata-se dum filme pouco conhecido, cujo protagonista também o é. Conheci a obra mediante indicação do dono da vídeolocadora (ainda no tempo do VHS). A história é bastante simples: um lutador mascarado (Darren Shahlavi) começa a duelar com campeões de diversos estilos de luta e os mata, após vencê-los. O detetive Chuck Baker (Chuck Jeffreys) não consegue dar conta do caso sozinho e recebe ajuda (a contragosto) de quem ele sucedeu no posto, o detetive Ken O’Hara (Gary Daniels). Tive oportunidade de rever o filme recentemente no You Tube (com qualidade baixa), e pude perceber uma coisa: o filme adota uma estrutura (até onde sei iniciada com a série “Máquina mortífera”) de utilizar como protagonistas uma dupla de policiais (um negro e um branco), explorando o humor na relação algo conturbada entre eles (se estranham inicialmente, depois ficam amigos). Contudo, o que me fez gosta bastante do filme na época foi a forma de suas coreografias marciais: são bastante rápidas, acrobáticas (com grandes e diversificados saltos) e criativas (com utilização de objetos cotidianos – armários, bancos, vasos de planta – como armas); na época isso foi uma grande novidade para mim, embora tal artifício já fosse utilizado faz tempo em outros filmes, como os de Jackie Chan. Em suma, para quem busca boas coreografias marciais, sem exigir muito de enredo e atuações, “Lua sangrenta” constitui um filme que vale apena.





Kickboxer – o desafio do dragão” (EUA, 1989, de Mark DiSalle e David Worth).
Jean-Claude Van Damme é provavelmente o único artista marcial ocidental (entre os atores) que consigo apreciar. “Kickboxer – o desafio do dragão” é um de seus dois filmes obrigatórios para qualquer um que aprecie arte marcial. O enredo é o seguinte: Eric Sloane (Dennis Alexio) é campeão de Kickboxing no ocidente e que viaja para a Tailândia para enfrentar o campeão local Tong Po (Michel Qissi). Após levar uma surra e ficar na cadeira de rodas, Eric vê seu irmão mais novo Kurt Sloane (Jean-Claude Van Damme) treinar com um mestre local para derrotar Tong Po.
Há pelo menos três cenas clássicas no filme: 1) logo no início, ao ir buscar gelo para que Eric se preparasse para a luta, Kurt vê Tong Po derrubando o reboco de uma larga pilastra de concreto utilizando apenas chutes (com a canela! típicos do Muay Thai) e joelhadas; 2) no treinamento para enfrentar Tong Po, Kurt é obrigado pelo mestre a chutar com a canela uma bananeira, até derrubá-la (trata-se do treino de calejamento para canela); dói só de olhar; 3) a luta final ocorre em estilo antigo, com ambos os lutadores mergulhando as ataduras que cobrem suas mãos numa substância pegajosa e em seguida em vidro quebrado: assim, cada soco não machuca só pela pancada, mas também provoca cortes.

Um detalhe para os leigos: Eric (como dito acima) lutava Kickboxing, enquanto o estilo de Tong Po é Muay Thai; o primeiro consiste num estilo misto de diferentes artes marciais, enquanto o segundo consiste numa luta típica da Tailândia; os estilos são similares (e freqüentemente confundido pelos leigos), mas não se trata da mesma coisa, tanto é que no filme Tong Po atinge Eric com uma cotovelada, algo permitido no Muay Thai, mas não no Kickboxing (ao menos na época).





O grande dragão branco” (EUA, 1988, de Newt Arnold)
Outro filme com Van Damme obrigatório aos fãs de artes marciais. O personagem Frank Dux (Jean-Claude Van Damme) entra num torneio de artes marciais para honrar seu mestre; embora o conflito de opiniões entre o mestre japonês que inicialmente se recusa e ensinar tudo que sabe ao seu discípulo ocidental (pois a ortodoxia das artes marciais orientais preconizava que as técnicas mais avançadas só deveriam ser transmitidas a familiares) e o interesse de Frank em se tornar o melhor lutador possível para honrar seu mestre e seu amigo (falecido filho do mestre) o fato de o filme apresentar tal maneira de honrá-lo como sendo vencer um torneio me parece algo forçado e mal explicado. Voltarei a isso quando fizer uma resenha específica do filme, comentando também a existência real do protagonista, um militar dos EUA...
Assim como em “Kickboxer, o desafio do dragão”, o protagonista vê uma pessoa querida levar uma surra do vilão do filme e ir parar no hospital, mas ao contrário daquele filme, desta vez a vítima é um amigo, Jackson (Donaldo Gibb). Também é mostrado um rigoroso treinamento pelo qual passa o protagonista, mas há basicamente dois aspectos nos quais “O grande dragão branco” é melhor que o filme supracitado: 1) o contexto do filme é um torneio de artes marciais e não um combate entre dois lutadores, ou seja, vemos no filme em questão diversos lutadores de diferentes estilos (Muay-Thai, Kung-Fu e até Sumô); 2) o vilão Chong Li (Bolo Yeung) consegue ser ainda melhor que Tong-Po (vilão de “Kickboxer, o desafio do dragão”). Aliás, Bolo Yeung merece um parêntese: embora tenha atuado em “Operação Dragão” (1973) com nada menos que Bruce Lee, o conheci através desse filme (provavelmente em sua melhor atuação). Além disso, há uma cena em “O grande dragão branco” na qual o personagem de Bolo diz para o de Van Damme, após este quebrar um tijolo que tijolo não revida, tratando-se duma clara homenagem a frase “tábua não revida”, dita pelo personagem de Bruce Lee em “Operação Dragão”.

Como cenas particularmente marcantes, elejo o golpe no qual Frank abre escala e acerta o testículo do lutador de Sumô (golpe este utilizado pelo personagem Jonhnny Cage no game Mortal Kombat, inspirado no ator belga), bem como a luta final entre Frank (Van Damme) e Chong Li (Bolo), com direito à trapaça que obriga o protagonista a lutar sem enxergar o adversário.




Karatê kid – a hora da verdade” (EUA, 1984, de John G. Avildsen).
Filme notoriamente fraco em termos de movimentos marciais, mas excelente na mensagem que transmite, além de ter como trunfo maior o carisma da dupla Daniel Larusso, mais conhecido como Daniel San (Ralph Macchio) e Sr. Miyagi (Pat Morita). A esse carisma soma-se a empatia transmitida por Macchio, por tratar-se de um jovem comum, magro, inseguro e que mesmo após treinamento não se torna um exímio artista marcial, mas apesar disso, consegue prosperar.

Cenas marcantes são o que não faltam no filme: Miyagi apresentando Daniel às pequenas árvores bonsai; colocando-o para encerar carros, pintar e lixar cerca e posteriormente lhe mostrando que tais atividades foram feitas com movimentos que podem ser utilizados como defesa no karatê; tentativa de Miyagi de capturar uma mosca utilizando os pauzinhos hashi que alguns países orientais usam como talher e o famoso golpe da garça, utilizado por Daniel na luta final, ao ter uma das pernas momentaneamente inutilizada para o combate, devido a um golpe irregular desferido propositalmente contra ele durante o torneio.




O vôo do dragão” (Hong Kong, 1972, de Bruce Lee);

Tang Lung (Bruce Lee) vai de Hong-Kong até Roma para ajudar uma amiga de seu tio que estava sofrendo extorsão da máfia italiana, pois queriam forçá-la a vender seu restaurante; com este enredo simples, Bruce Lee (pela primeira vez dirigindo uma obra na qual atua) realizou um filme nitidamente superior aos por ele protagonizados anteriormente; há desde uma utilização do humor já presente em filmes anteriores do ator (aqui se baseando, sobretudo na falta de familiaridade do protagonista com a cultura italiana), passando pela exploração de pontos turísticos de Roma, culminando com a antológica cena de luta entre Tang (Lee) e Colt (Chuck Norris). Merece destaque ainda a cena na qual, após derrotar vários capangas utilizando chutes e o nunchaku, Tang vê o último dos inimigos apanhar um nunchaku no chão e tentar imitá-lo, acabando por se auto-golpear na cabeça; nesta cena alia-se a grande competência técnica de Lee nas artes marciais com o humor, mostrando que não foi Jackie Chan quem mesclou cenas os aspectos marcial e cômico.




 Em suma, mesmo os não interessados especificamente em arte marciais podem extrair elementos interessantes de filmes do estilo, seja em termos históricos (o imperialismo japonês sobre a China, mostrado, por exemplo, nos filmes “A fúria do dragão” com Bruce Lee e “O grande mestre 2” com Donnie Yen); humor (vários filmes de Jackie Chan) ou mensagens mais profundas de sabedoria, como no supra resenhado “Katarê Kid” ou o supramencionado “O mestre das armas” com Jet Li.
Em tempo: é provável que eu não tenha assistido a “O vôo do   dragão” na infância, mas a um fake chamado “A torre da morte”, mas quando atentei para isso, o texto já estava em grande parte redigido.

Alberto Bezerra de Abreu, maio-julho 2014








1 comentários:

carlha disse...

O que mais gostei foi do filme a lua sangrenta quando passou na tv. Eu peguei depois do primeiro intervalo comercial e botei para gravar. Assistir diversas vezes. Esse filme é uma obra prima. Marcou minha adolescência

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Alguém que escreve para viver, mas não vive para escrever; apaixonado pelas artes; misantropo humanista; intenso, efêmero e inconstante; sou aquele que pensa e que sente, que questiona e duvida, que escapa a si mesmo e aos outros. Sou o devir =)
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