domingo, 29 de janeiro de 2012

PostHeaderIcon Theo Angelopoulos (1936-2012)

Theo Angelopoulos
                                                                                               "Paisagem na neblina"



a) Aspecto objetivo

Na semana passada (mais precisamente, dia 24/01/2012) faleceu aos 76 anos o cineasta grego Theodoros Angelopoulos, atropelado por uma motocicleta (há certa ironia trágica no fato de em seu filme “Paisagem na neblina” um dos personagens possuir uma moto na qual aparece em diversas cenas transportando o casal de protagonistas infantis do filme). O diretor se encontrava ainda em atividade, inclusive preparando-se para filmar uma obra sobre a crise político-econômica que a Grécia enfrenta nos últimos anos. Angelopoulos tornou-se o cineasta grego mais reconhecido do país, alcançando sucesso internacional com o filme “A viagem dos comediantes” (1975); com “A eternidade e um dia” (1998), conquistou a Palma de Ouro em Cannes. De acordo com o verbete que leva seu nome da Wikipédia:



Seus filmes são conhecidos pelas longas cenas sem cortes (plano-sequência), pelo silêncio, alegorias e referências mitológicas, além da temática que percorre os caminhos da melancolia na civilização moderna - de maneira mais específica em duas fases: a primeira mais marxista-brechtiana, e a segunda, a partir de "Viagem a Citera", com abordagens mais emocionais e subjetivas

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Theo_Angelopoulos)



b) Aspecto subjetivo

Não sei ao certo se a primeira vez que ouvi falar em Angelopoulos foi quando minha mãe comprou (sabe-se lá o motivo, já que ela não conhecia o cineasta, ao contrário de Bergman, por exemplo) o DVD “Paisagem na neblina” ou se foi através do livro “1001 filmes para ver antes de morrer” (2008), adquirido por ele em 2009 ou 2010. Na realidade isto pouco importa, pois se primeiro veio o DVD, foi por causa dele que me interessei pela resenha do filme, e se veio primeiro o livro, foi por causa deste que me interessei pelo filme. Não se faz necessária demasiada inteligência/sensibilidade para perceber (olhando-se a capa, lendo-se a sinopse, bem como a resenha do filme no livro citado) que “Paisagem na neblina” (1988) é um filme belo e profundo, porém, lento. Como tal tipo exige maior disposição, acabei não assistindo-o até ontem (evidentemente o falecimento do cineasta me impeliu a isto, pois não gostaria de dedicar-lhe uma postagem sem ter visto sequer um filme seu). Não cabe aqui tratar do filme acima citado, pois ele merece um texto específico; limito-me então a dizer que gostei bastante dele e que, a impressão acima mencionada foi correta: o filme é lento e pode tornar-se extremamente cansativo para quem não tiver alguma familiaridade com o padrão narrativo desacelerado de muitos dos filmes autorais europeus. Cabe ainda salientar que a citação da Wikipédia acima utilizada parece ser perfeitamente verossímil.

No que concerne às influências de Angelopoulos, no fórum de discussão/página de comentários do filme “Paisagem na neblina” na rede social de filmes e seriados Filmow (falarei desta em alguma postagem posterior), mais de uma pessoa aponta Andrei Tarkovski com influenciador do cineasta grego, o que não me parece absurdo; na resenha deste mesmo filme no já mencionado livro “1001 filmes para ver antes de morrer”, afirma-se que Roberto Rossellini (no que concerne a fragmentação do pós-guerra) e Chantal Akerman (no aspecto paisagístico) constituem os dois pólos entre os quais se situa “Paisagem na neblina”. Pessoalmente, ao assistir o filme, lembrei-me (por conta das paisagens) de “Deserto Vermelho” de Michelangelo Antonioni e de “O homem de mármore” de Adrzej Wajda. Acabou de me ocorrer que talvez o “Não matarás” e o “A liberdade é branca” (na parte passada na Polônia) de Krysztof Kieslowski também possuem similaridades paisagísticas com tal filme de Angelopoulos. Tratam-se todos de cineastas europeus mais ou menos contemporâneos uns aos outros, todos fortemente influenciados pelo contexto pós Segunda Guerra Mundial (e alguns pelo próprio conflito, como Rossellini e Wajda), de modo que vejo aspectos comuns entre eles, embora alguns sejam mais subjetivos, outros mais políticos (não sendo, entretanto, de modo algum tais enfoques auto-excludentes, ao contrário).

Mais difícil para mim de interpretar é a declaração de Angelopoulos de que Orson Welles (de quem muito já ouvi falar, mas cuja obra conheço pouquíssimo) e Kenji Mizoguchi (que até o presente momento é-me um ilustre desconhecido) sejam suas influências primárias. Tal declaração é mencionada no livro (mais uma vez ele) “1001 livros para ver antes de morrer”, desta vez na resenha do filme “A viagem dos comediantes”. Talvez tais influências sejam mais fortes nas obras da suposta primeira fase, mas isto não passa de vaga especulação. Faz-se necessário debruçar-me sobre os filmes do cineasta para poder escrever sobre ele com maior propriedade. Fica aqui minha homenagem a ele, bem como a lamentação pela perda de mais um cineasta “classe A”, bem como a indicação do filme “Paisagem na neblina”.



Alberto Bezerra de Abreu, 29/01/2011, (redigido ao som de João Gilberto e Paulinho da Viola=)



Ps. eis um texto interessante sobre Angelopoulos:

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Alguém que escreve para viver, mas não vive para escrever; apaixonado pelas artes; misantropo humanista; intenso, efêmero e inconstante; sou aquele que pensa e que sente, que questiona e duvida, que escapa a si mesmo e aos outros. Sou o devir =)
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