segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

PostHeaderIcon Melhores filmes de 2010: primeira lista

Educação
O profeta
Mother - a busca pela verdade
O segredo dos seus olhos
Como treinar seu dragão
A fita branca
Mary & Max: uma amizade diferente
Vincere



Antes de postar sobre o festival “Retrospectiva 2010, expectativa 2011”, realizado no final de 2010 na Fundaj, bem como minha lista pessoal de destaques cinematográficos do presente ano, esquentarei o terreno com a lista dos 10 melhores DVD's de 2010, segundo a revista Veja (esclareço que alguns ainda não foram lançados – mas a previsão é que o sejam no início do ano – e que nem todos são filmes, mas há também seriados, os quais serão aqui apenas mencionados, mas não comentados).

Um deles é “Educação” (Reino Unido, 2009, de Lone Scherfig, exibido por aqui na sessão de arte do multiplex Boa Vista); trata-se da história de uma jovem de 17 anos que, na Inglaterra, no início da década de 1960, que busca ingressar na vida adulta e por isso (ou será para isso?) se envolve com um rapaz mais velho (não assisti o filme, mas aparentemente a revolução sexual e comportamental não se iniciara, ou, ao menos, não atingira ainda seu ápice). Dois aspectos mencionados pela reportagem me pareceram particularmente interessantes: a afirmação de que os limites comportamentais das mulheres na época (limites estes testados e desafiados pela protagonista) se devem menos a moral e mais a sua condição financeira (recentemente assisti “Coco Chanel & Igor Stravinsky” e de fato a independência de Chanel se assenta em sua condição financeira privilegiada – conquistada por seu mérito, e não por herança, cabe frisar), bem como a afirmação de que poucas vezes a bandeira do feminismo fora levantada com tamanha sutileza e pertinácia.

Outro foi “O profeta” (França, 2009, de Jacques Audiard, exibido por aqui no festival Varilux do cinema francês, na Fundaj); se não estou enganado, quando fiquei sabendo da programação do festival por aqui não lembrava ter lido uma resenha positiva do filme nesta mesma revista; o mote daquele escrito é o mesmo da pequena indicação presente na Veja: ao ser preso, homem se filia a uma das facções do presídio e com isso se descobre, se afirma e prospera; seu progresso consiste então em tornar-se um profissional do crime.

Já “Mother – a busca pela verdade” (Coreia do Sul, 2009, de Joo-ho Bong) é um filme do qual não tinha ouvido falar (ao menos até onde lembro); segundo a breve resenha, trata-se da história de uma mãe que tenta defender o filho “intelectualmente atrasado” duma acusação de assassinato pautada em evidências inconclusivas, sendo a questão principal do longa (questão essa deveras interessante) a problematização do amor ilimitado, passível de transformar-se numa monstruosidade (me remeteu de leve ao filme também coreano “Poesia”).

Vencedor do Oscar 2010 de melhor filme estrangeiro, “O segredo dos seus olhos” (Argentina, Espanha, 2009, de Juan José Campanella), o filme argentino frequentou várias listas de “melhores de 2010” (farei outra postagem sobre o tema), e, constituindo um mistério policial que revisita uma ferida ainda aberta (no Brasil, a hipócrita anistia é pouco contestada), a ditadura militar da década de 1970 daquele país. O texto da revista é vago, e parece sugerir o filme mais pelo seu êxito, somado ao fato de constituir um representante de um vigor crescente do cinema argentino. Está na minha lista.

Outro do qual eu nunca ouvira falar, “Como treinar seu dragão” (EUA, 2010, de Dean DeBlois, Chris Sanders) é uma animação que cumpre todos os requisitos do gênero: personagens bem construídos, humor, ação, aventura e uso competente do 3D (posteriormente, algo me chamou atenção: na lista de vários críticos apareceu uma outra animação digital – bem mais famosa – mas não essa: “Toy story 3”; talvez o fato de terem optado por “Como treinar seu dragão”, somando-se a isso o fato de terem selecionado uma outra animação, “Mary e Max”, sendo esta não digital, tenha pesado para que esta lista de Veja tenha prescindido de “Toy story 3” que, de outra forma, certamente a integraria, até porque lembro-me bem que obra mereceu um número maior de página que a média, tendo sido bastante elogiado pela revista quando sua resenha foi nela publicada).

O filme “A fita branca” (Alemanha/ Áustria/ França/ Itália, 2009, de Michael Haneke, exibido por aqui no início do ano, no cinema da Fundação) foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano, que acabou ficando com o acima citado “O segredo dos seus olhos”; tive a oportunidade de assisti-lo e confesso que meu deleite pela belíssima fotografia em preto-e-branco foi proporcional a meu enfado com o enredo, mas tendo em vista não só a indicação a prêmios, mas comentários positivos outros, bem como o fato de tratar-se duma espécie de gênese distante do nazismo (eu não o percebi, de modo que devo tê-lo assistido muito dispersamente) fizeram-me ter grande curiosidade em revê-lo, desta vez com mais calma e sem elementos que me distraiam por perto. O fato é que, além de belo, o filme é profundo e conta com excelentes atuações; o problema é que me deixou entediado. Pretendo ainda em 2011 resenha-lo (a previsão é que seja lançado em DVD ainda em janeiro).

Outro dos filmes indicados na lista que tive oportunidade de assistir no cinema (mais uma vez a Fundaj),“Mary e Max” (Austrália, 2009, de Adam Eliot) é uma animação tradicional, valendo-se de bonecos de massa; estes, no entanto, são deveras expressivos, não só na construção de suas respectivas personalidades, mas também em suas fisionomias, retratadas com uma competência hipnotizante. Longe de ser uma obra voltada exclusivamente para o público infantil, parece-me inclusive ser uma obra para adultos que talvez possa agradar a algumas crianças. O tom depressivo é constante, mas a mensagem de amizade e de esperança tornam as coisas mais leves, sobretudo no final. (Obs. Resenhei este filme em julho de 2010).

Definido com uma espécie sopro renovador de vida num cinema aparentemente esgotado tematicamente (o italiano), “Vincere” (Itália/ França, 2009, de Marcelo Bellocchio) narra a história (real) de como o ditador fascistas Benito Mussolini se esforçou para apagar de sua biografia a existência de uma amante, bem como do filho que teve com ela. A ênfase que a indicação da revista dá a relação de um povo com sua história (bem como com as tentativas de falsifica-la), me remetem diretamente ao neo-realismo italiano, cinema de cunho eminentemente social do imediato pós Segunda Guerra; em certo sentido, este filme parece resgatar tal perspectiva, ainda que provavelmente deixando de lado a crítica da miséria e das desigualdades sociais enfocadas por aquele movimento (pois se o fizesse, certamente a Veja não o indicaria, considerando-o um fóssil esquerdista, dada a vertente nitidamente direitista da revista).

Completando a lista, foram indicados dois seriados “Glee” e “Sons of anarchy”, dos quais não me cabe falar aqui. Em breve, exporei e tecerei minhas considerações sobre as listas dos melhores filmes do ano na opinião de 9 críticos de cinema. Adianto que minhas discordâncias não são poucas.

As imagens estão na mesma ordem que os comentários sobre os filmes: a de cima corresponde a “Educação”, a de baixo a “Vincere” e assim sucessivamente. Bom fim/ início de ano a todos!


Alberto Bezerra de Abreu, dezembro de 2010.


5 comentários:

ISABELE disse...

Não gostei da lista, mas vale-se ressaltar que 2010 foi um ano fraco para filmes, o último ano de filmes bons para mim, foi 2008.
"Educação", é um filme maçante, óbvio, que se propõe a ser conhecido como filme de arte, mas não é nada disso, existe muitos filmes que se propõe a mostrar costumes sociais que são bem melhores, há algumas atuações interessantes, mas nada de extravagante.
"Mary e Max", não assisti, mas quero muito, muito mesmo assisti.
"A Fita Branca", sim tem uma fotografia belíssima, mas uma história praticamente sem sentido, que não leva a nenhum lugar, o seu final então nem se fala, apesar de que os finais dos filmes de Haneke realmente não tem finais bons, afinal quem não se lembra do final maravilhoso de "Violência Gratuita" apesar que eu esperava algo do gênero e até gostei, vale-se ressaltar que é a versão americana, mas esse foi o ápice.
Dos seriados, só conheço Glee, e por incrivel que pareça, eu gosto e não tenho vergonha de dizer huahuahuahua.

Pedro S. disse...

Alberto,

Vi alguns filmes da lista supracitada e aqui iria minha "classificação" dos já apreciados: Mary e Max - uma bosta; Educação - bom; Mother -fraquinho; A fita branca - mediano. Dos que não vi ainda gostaria muito de ver Vincere (por motivos óbvios) e O segredo de teus olhos. O protagonista Ricardo Darín é um ator magnífico. Não sei se estou certo, mas na foto que ilustra esse filme creio que Darín está contracenando com a atriz Leticia Bredice - ambos estiveram no magistral filme argentino Nove Rainhas, de 2001 - o primeiro filme argentino que vi no cinema.

No que toca aos seriados, um dos melhores da história da Televisão do Mundo é The Walking Dead, exibido em sua primeira temporada pela Fox, o mesmo canal de Glee (do qual não sou fã)! Tenta ver, pois é ótimo!

Miradouro Cinematográfico disse...

Isabele

Engraçado vc dizer que nao gostou da lista, quando seus comentários críticos se debruçaram apenas sobre dois filmes.
Não assisti "Educação", mas talvez o fato de ter sido exibido na sessão de arte de um multiplex constitua um indicativo de ser um pseudo (ou semi) artístico. Vc chamar o filme de óbvio tudo bem, mas maçante? Enfim...
"Mary e Max" eu assisti (na Fundaj) e gostei, embora tenha minhas dúvidas de que devesse constar entre os melhores do ano (em outras listas de críticos que postarei em breve ele não se faz presente, enquanto "Toy story 3" recebeu alguns votos). De qualquer forma, me parece um bom filme e uma grata surpresa, e tenho a nítida impressão de que irás gostar.
Concordo contigo acera de "A fita branca" e me surgiu a seguinte dúvida: será que a tal gênese de um se sentimento que futuramente se converteria no nazismo é nítido no filme, ou que os críticos falaram dele porque leram algo numa sinopse ou em outro lugar e já apreenderam o filme condicionados por esta perspectiva?
Não conheço o diretor do filme, mas acredito que não só a fotografia, como tbm as atuações são acima de média, o que justifica, penso eu, sua inclusão na lista, até porque, como bem disseste, 2010 não foi um grande ano para o cinema (porém, se acrecentarmos filmes realizados em 2009 e exibidos no Brasil em 2010, penso que a coisa mude de figura). Voltarei a isso posteriormente.

Miradouro Cinematográfico disse...

Pedro

"Mary e Max" uma bosta? O_o Gostei dele; apesar do enredo um tanto batido, achei soberba a expressividade dos personagens (sobretudo Max), não só na parte técnica (representação das feições mediante animação) mas como um todo (a personalidade de acordo com as feições e gestos). Trata-se dum desenho p/ adultos, permeado por uma constante melancolia, mas que não deixa de apontar para algo positivo: a poder de uma amizade verdadeira. Como já resenhei-o, não ficarei tecendo maiores comentários, saliento apenas que, embora tenha sérias dúvidas de que ele mereça ter sido indicado a um dos melhores do ano, discordo veementemente de sua alcunha de "uma bosta". Por acaso és avesso a qualquer tipo de animação, ou a implicância com o filme foi outra? =)
"Educação" não vi, mas somando o comentário de Isabele e o seu, me veio a seguinte impressão: trata-se de um bom filme, e nada mais, provavelmente foi superestimado, como parece ter acontecido tbm com "A fita branca" (apesar de que este não ganhou o Oscar, mas foi bastante celebrado por críticos); assisti-o e concordo contigo: filme mediano, quiçá bom, e nada mais.
"Mother" me interessou, mas não vi; assisti, porém, outro koreano, que tem temática um tanto semelhante e achei-o ótimo: "Poesia".
Acredito que "Vincere" seja um ótimo filme (numa reunião de listas de diferentes críticos - a qual postarei posteriormente aqui -, este filme foi o segundo mais votado, só perdendo para "A rede social"), porém, acredito que seja inferior aos clássicos do neo-realismo italiano, ao menos em alguns aspectos (p/ a Veja elogiar não deve ter nada que remeta à "esquerda", mesmo que a esquerda saudável), apesar de que pode ser esteticamente superior.
Já "O segredo dos seus olhos" me interessou principalmente por ser argentino (só assisti um filme daquele país e gostei, embora não tenha adorado); gostaria muito de ampliar minha cultura cinematográfica com filme da América Latina, do Irã e da Ásia.
Não me interesso muito por seriados, pois acho que eles prendem demais o expectador (não me refiro a intensidade, mas a longos períodos de tempo, já que são temporadas). Nadando contra a correnteza, assisto apenas "Kung Fu", seriado da década de 70 com David Carradine =D

Pedro S. disse...

Alberto,

O motivo de não ter gostado de Mary e Max você já definiu: enredo batido; não sou avesso à animação para nada, pelo contrário: sou fã de desenhos animados como Os Simpsons, o finado Beavis and Butt-head e o pré-histórico Patrulha Estelar. Nos longas de animação, lamento muito nunca ter visto as Biciletas de Belleville (exibido em algum momento no ano passado no São Luis). Esperava muito mais de A fita branca, fiquei um pouco decepcionado. Nada mais intrínseco a si do que comportamento anômico de (pré)adolescentes, não?

A Rede Social é um filme maravilhoso. O ator Jesse Eisenberg é bem convincente no papel de Mark Zuckerberg, mas assistindo ao excelente Zumbilândia, com o mesmo Eisenberg, e com o cowboy Woody Harrelson, me dei conta de que Einsenberg atua de forma muito similar em dois filmes com propostas razoavelmente diferentes. (by the way, vi um outro filme com esse rapaz, Férias frustradas de verão, que conta ainda com aquela delícia chamada de Kristen Stewart, a protagonista dos filmes Crepúsculo e Lua Nova – sei lá eu o título – ainda desconhecida do grande público. Ah, o Miradouro permite que se classifique uma mulher de “deliciosa” ou isso é sexismo, eheh? Stewart faz uma ponta num filme muito interessante que de certa forma me recorda do Homem-Urso de Herzog, Na natureza selvagem. Muito bom!)

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Alguém que escreve para viver, mas não vive para escrever; apaixonado pelas artes; misantropo humanista; intenso, efêmero e inconstante; sou aquele que pensa e que sente, que questiona e duvida, que escapa a si mesmo e aos outros. Sou o devir =)
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