sexta-feira, 4 de junho de 2010
Meu Tio: sátira a obsessão tecnológica
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Miradouro Cinematográfico |
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(http://miradourocinematografico.blogspot.com/2010_05_16_archive.html), a retomada da sessão de arte do cinema São Luiz, após sua reabertura foi iniciada com o filme “Meu Tio” (Jacques Tati, 1958); trata-se duma sátira a obsessão pela tecnologia. O enredo é bastante simples: família abastarda (os Arpet) vivem numa casa cheia de apetrechos tecnológicos. A esposa persuade o marido a arrumar um emprego em sua fábrica para o Sr. Hulot (o tio do título, que é irmão da mulher citada). No entanto, este personagem excêntrico (que já aparecera em outros filmes do diretor, como “As férias do Sr. Hulot” de 1953) põe tudo a perder com seu jeito desastrado (a cena em que ele supostamente sobe na mesa para espiar a mulher no banheiro é cômica é foi já a primeira que me arrancou gargalhadas).
O filme começa e termina de maneira singela: mostra um grupo de cachorros perambulando pelas ruas dum bairro pobre (apesar de ser um filme franco-italiano, tanto o estilo como os cenários me remetem à Itália, mas segundo a resenha do livro “1001 filmes para ver antes de morrer”, a história se passa na França); entre outras cenas, vemos um grupo de crianças fazendo peraltices, como sacolejar carros para fazerem o motorista pensar que o carro de trás bateu em sua traseira e assoviar para fazer com que transeuntes olhem para trás e dêem com a cara num poste (travessuras deliciosas de infância que parecem não mais existir hoje em dia). As trapalhadas do Sr. Hulot na fábrica de seu cunhado, bem como a cômica cena dele subindo para seu quarto, no último andar duma pensão bastante modesta são bem divertidas, mas o foco é mesmo a casa dos Arpet. Definitivamente o Sr. Hulot não se dá bem com os aparelhos tecnológicos sofisticados da casa de seus parentes, cometendo sucessivos desastres. Mas o aspecto cômico do filme vai além disso: no jardim da residência há uma fonte com um peixe que cospe água; geralmente esta fonte fica desligada mas quando chega alguma visita, antes de acionar eletronicamente a abertura do portão a dona da casa liga a fonte; por vezes trata-se de alguém que não convém impressionar (o Sr. Hulot ou um entregador) e lá se põe ela a desligar o apetrecho. Parece-me que além de uma crítica a obsessão pela tecnologia, o diretor crítica também a futilidade da família burguesa excessivamente preocupada com aparências, bons modos, com o que é chique, etc. O contraste entre o bairro pobre e a casa sofisticada parece apontar para uma crítica social, mas esta não é aprofundada.
Confesso que meu interesse por este filme foi muito pequeno perto de outros anunciados para a tal sessão de arte (Bergman, Fellini e Truffaut, por exemplo), mas valeu muito a pena vê-lo, por três motivos: trata-se de um clássico (estando entre os “1001 filmes para assistir antes de morrer”, os quais tentarei resenhar aqui); é divertidíssimo (gargalhei de forma escandalosa no cinema a ponto se ser repreendido pela pessoa que me fazia companhia rs, mas em pouco tempo outras pessoas faziam o mesmo – acho que fui o primeiro) e por fim, contribui para a prosperidade do evento (infelizmente, ao término do filme foi possível perceber que a quantidade de pessoas fora bastante reduzida, o que pode comprometer a continuidade da exibição de clássicos de sétima arte a um preço bastante em conta – 4$ a inteira, 2$ a meia entrada).
Por fim, cabe expressar uma impressão: acredito que este filme (e possivelmente outros do diretor) tenha constituído grande influência para Roberto Benigni (“O monstro”, “A vida é bela”).
Alberto Bezerra de Abre, 04/06/2010
(http://miradourocinematografico.blogspot.com/2010_05_16_archive.html), a retomada da sessão de arte do cinema São Luiz, após sua reabertura foi iniciada com o filme “Meu Tio” (Jacques Tati, 1958); trata-se duma sátira a obsessão pela tecnologia. O enredo é bastante simples: família abastarda (os Arpet) vivem numa casa cheia de apetrechos tecnológicos. A esposa persuade o marido a arrumar um emprego em sua fábrica para o Sr. Hulot (o tio do título, que é irmão da mulher citada). No entanto, este personagem excêntrico (que já aparecera em outros filmes do diretor, como “As férias do Sr. Hulot” de 1953) põe tudo a perder com seu jeito desastrado (a cena em que ele supostamente sobe na mesa para espiar a mulher no banheiro é cômica é foi já a primeira que me arrancou gargalhadas).
O filme começa e termina de maneira singela: mostra um grupo de cachorros perambulando pelas ruas dum bairro pobre (apesar de ser um filme franco-italiano, tanto o estilo como os cenários me remetem à Itália, mas segundo a resenha do livro “1001 filmes para ver antes de morrer”, a história se passa na França); entre outras cenas, vemos um grupo de crianças fazendo peraltices, como sacolejar carros para fazerem o motorista pensar que o carro de trás bateu em sua traseira e assoviar para fazer com que transeuntes olhem para trás e dêem com a cara num poste (travessuras deliciosas de infância que parecem não mais existir hoje em dia). As trapalhadas do Sr. Hulot na fábrica de seu cunhado, bem como a cômica cena dele subindo para seu quarto, no último andar duma pensão bastante modesta são bem divertidas, mas o foco é mesmo a casa dos Arpet. Definitivamente o Sr. Hulot não se dá bem com os aparelhos tecnológicos sofisticados da casa de seus parentes, cometendo sucessivos desastres. Mas o aspecto cômico do filme vai além disso: no jardim da residência há uma fonte com um peixe que cospe água; geralmente esta fonte fica desligada mas quando chega alguma visita, antes de acionar eletronicamente a abertura do portão a dona da casa liga a fonte; por vezes trata-se de alguém que não convém impressionar (o Sr. Hulot ou um entregador) e lá se põe ela a desligar o apetrecho. Parece-me que além de uma crítica a obsessão pela tecnologia, o diretor crítica também a futilidade da família burguesa excessivamente preocupada com aparências, bons modos, com o que é chique, etc. O contraste entre o bairro pobre e a casa sofisticada parece apontar para uma crítica social, mas esta não é aprofundada.
Confesso que meu interesse por este filme foi muito pequeno perto de outros anunciados para a tal sessão de arte (Bergman, Fellini e Truffaut, por exemplo), mas valeu muito a pena vê-lo, por três motivos: trata-se de um clássico (estando entre os “1001 filmes para assistir antes de morrer”, os quais tentarei resenhar aqui); é divertidíssimo (gargalhei de forma escandalosa no cinema a ponto se ser repreendido pela pessoa que me fazia companhia rs, mas em pouco tempo outras pessoas faziam o mesmo – acho que fui o primeiro) e por fim, contribui para a prosperidade do evento (infelizmente, ao término do filme foi possível perceber que a quantidade de pessoas fora bastante reduzida, o que pode comprometer a continuidade da exibição de clássicos de sétima arte a um preço bastante em conta – 4$ a inteira, 2$ a meia entrada).
Por fim, cabe expressar uma impressão: acredito que este filme (e possivelmente outros do diretor) tenha constituído grande influência para Roberto Benigni (“O monstro”, “A vida é bela”).
Alberto Bezerra de Abre, 04/06/2010
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- Alguém que escreve para viver, mas não vive para escrever; apaixonado pelas artes; misantropo humanista; intenso, efêmero e inconstante; sou aquele que pensa e que sente, que questiona e duvida, que escapa a si mesmo e aos outros. Sou o devir =)
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